São Paulo, 28 de setembro de 2021 – “Não existe país grande exportador que não seja também grande importador”. Com esta advertência, o secretário de Comércio Exterior do Brasil, Lucas Ferraz, justificou a importância que o governo tem dado à necessidade de flexibilizar as regras do Mercosul. No segundo dia do 4º Encontro O Brasil Quer Mais – BR+, promovido pela ICC Brasil (International Chamber of Commerce), capítulo nacional da maior organização empresarial do mundo, foram feitas novas críticas ao bloco pelos representantes do governo brasileiro no evento.
Segundo o secretário, apenas 18% do comércio exterior brasileiro flui através de acordos, enquanto a média mundial é de 60%. “Nossa baixa inserção no mercado internacional é resultado de o Brasil ter ficado preso ao Mercosul”, afirmou Ferraz. “O bloco caminhou bem nos primeiros anos de funcionamento, quando chegou a representar 18% de nosso comércio internacional. Mas hoje representa apenas 6% desse fluxo, ou seja, menos que os 8% que representava no início”, pontuou. Um dos principais motivos para essa situação, de acordo como o secretário, é a excessiva rigidez do bloco, que ainda se foca nos antigos modelos protecionistas, impedindo o Brasil de aumentar sua inserção no mercado internacional. Hoje, explicou o secretário, apenas 10% do valor das exportações brasileiras corresponde a conteúdos importados, o que mostra o baixo aproveitamento das vantagens da fragmentação produtiva mundial que modificou completamente o conceito de produtividade. “Não adianta melhorar o custo Brasil e não aumentarmos nossa inserção internacional, mudando o modelo de substituição de importação. A escalada tarifária do Mercosul é inversa à tendência mundial e completamente conflitante com a lógica atual das cadeias internacionais de produção”, criticou Ferraz.
Esse quadro é corroborado pelos resultados da pesquisa anual da Fundação Dom Cabral sobre a internacionalização das empresas brasileiras, mencionada pela professora Lívia Barakat. Segundo ela, menos de 1% do total das empresas brasileiras é internacionalizada.
“Um dos motivos um dos motivos dessa baixa internacionalização é a falta de planejamento estratégico de longo prazo das empresas nessa direção. Muitas delas ainda têm uma visão imediatista do mercado externo”, afirmou Barakat. Entretanto, o último relatório da pesquisa aponta uma tendência de redução do tempo de internacionalização das empresas e também de redução do porte das que se colocam estrategicamente no mercado internacional. “Enquanto as empresas fundadas na década de 1960 levaram 50 anos para se internacionalizar, as mais jovens demoraram pouco mais de sete anos, principalmente as empresas de tecnologia”, destacou a professora.
Quanto à situação dos acordos internacionais do Brasil, o secretário Lucas Ferraz pontuou a conclusão das negociações com a União Europeia em 2019, a retomada das negociações de um acordo com o Canadá – que estavam paradas por causa da pandemia – e as negociações com o governo Biden em busca de um acordo bilateral com os Estados Unidos foram destacados pelo secretário como as principais frentes nas quais o Brasil busca aumentar sua inserção no mercado global. Com relação à Ásia, a abertura de negociações com a Indonésia e o Vietnã deverão somar-se às tratativas já em andamento com Coreia do Sul e Cingapura. “Isso gera desconforto em certos setores industriais brasileiros, mas temos de ter uma visão holística dos impactos desses acordos no longo prazo. Segundo nossas análises, teremos algo em torno de R$ 1,7 trilhão de benefícios acumulados no PIB com essas negociações, cerca de R$ 500 bilhões só com a Ásia”, disse o secretário. Sem contar com a possibilidade de acrescentar US$ 1,7 trilhão à balança comercial com a adesão do País ao Acordo de Compras Governamentais.
Para o vice-presidente executivo da Amcham Brasil, Abrão Árabe Neto, o setor privado tanto norte-americano quanto brasileiro apoia, pelo menos no médio prazo. Do lado dos Estados Unidos, um acordo dessa natureza é tido como muito necessário para melhorar a concorrência que os Estados Unidos enfrentam em território brasileiro. “Hoje, a parcela em disputa entre EUA e União Europeia dentro do mercado brasileiro é de US$ 59 bilhões em produtos de alto valor agregado”, afirmou Árabe Neto.
Além disso, as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, na visão do setor privado, devem progredir para um acordo resultante do protocolo de intenções assinado com o governo Biden, dada a importância que ambos os mercados representam um para o outro. “Os Estados Unidos são o principal mercado para exportações de manufatura do Brasil, boa parte com maior valor agregado (aeronáutico, máquinas e equipamentos etc.). Do total de vendas para os EUA, 80% são da indústria de transformação” destacou ele. Cerca de metade das exportações brasileiras de serviços são para o mercado norte-americano (em torno de US$ 8 bilhões).
Segundo Árabe Neto, produtos, serviços e investimentos relacionados a sustentabilidade, economia verde, bioeconomia, soluções de agricultura sustentável, energias renováveis são segmentos que apresentam muitas oportunidades de negócios para o Brasil nos EUA.
International Chamber of Commerce
A International Chamber of Commerce (ICC) é a representante institucional de mais de 45 milhões de empresas em 100 países. Por meio de uma combinação única de advocacy e criação de padrões e soluções, promovem o comércio internacional, a conduta responsável das empresas e uma visão regulatória global, além de fornecer serviços de resolução de disputas altamente reconhecidos pelo mercado. Seus membros incluem muitas das grandes empresas globais, PMEs, escritórios de advocacia, associações empresariais e câmaras de comércio.
A ICC representa os interesses do setor privado nos níveis mais altos de tomada de decisão intergovernamental, seja na Organização Mundial do Comércio, nas Nações Unidas ou no G20 – garantindo que a voz das empresas seja ouvida.
Neste link está a gravação completa deste segundo dia do evento.
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