*Daniel Feffer
No mês passado, tive a oportunidade de viajar à Tailândia para a reunião do Executive Board global da ICC – a International Chamber of Commerce.
Ao longo da missão, uma reflexão sobre desafio que atravessa fronteiras, governos e organizações internacionais: o planejamento de longo prazo.
A começar com uma experiência da própria anfitriã, a Tailândia.
Desde a morte do seu rei, Bhumibol Adulyadej, o país atravessa uma transição política acompanhada de profundas manifestações de respeito ao fiador da estabilidade nas últimas décadas.
Nesse contexto, durante Debate Econômico com líderes da ICC de todo o mundo, o Ministro dos Transportes da Tailândia, Arkhom Termpittayapaisith, relatava reunião com o Primeiro-Ministro do país sobre o planejamento do orçamento para 2018. Exatamente: 2018 – ou, em outras palavras, o longo prazo levado à sério. Um contraste que não pude deixar de notar em relação à realidade brasileira, ainda às voltas com o curto-prazo de uma crise fiscal repleta de incêndios a serem apagados.
O impulso de dinamismo econômico do sudeste asiático e a transformação dessa região em novo vetor do crescimento global não acontecem, portanto, por acaso. Dos pesados investimentos em logística e infraestrutura, passando pela integração das rotas marítimas à celebração de acordos comerciais que potencializam a economia de cada um desses países, eis que há clara visão de futuro pactuada entre os dirigentes de tais países e suas lideranças empresariais.
A ICC – organização quase centenária, fundada no entreguerras pelos mercadores da paz – também é produto (e, ao mesmo tempo, promotora) de uma visão de longo prazo para as empresas e negócios internacionais.
Esse modelo de pensar o mundo e as empresas está intrinsicamente ligado a um valor cada vez mais importante para todas as organizações, públicas e privadas: a sustentabilidade. Para além do meio-ambiente, o conceito se amplia e diz respeito à capacidade das atividades (incluindo a empresária) se adaptarem às mudanças e perpetuarem no tempo, ao abrirem novas perspectivas para o mundo com mais equilíbrio entre os movimentos de suas partes.
Nesse sentido, a ICC desempenha um papel secular ao promover regras e políticas transnacionais em prol dos investimentos e do comércio internacional, criando consensos em tornos de agendas comuns para a geração de renda e desenvolvimento da humanidade.
Ao ter como missão garantir a nível internacional a estabilidade dos negócios, a ICC também está antenada às mudanças que redesenham a forma como as empresas produzem, se organizam e circulam seus produtos e serviços.
Temas como economia digital, indústria 4.0 estão no centro da agenda da Organização Mundial das Empresas – como também é chamada a ICC – e tem o potencial de liderar os próximos ciclos de crescimento econômico no mundo. Equilibrar continuidade e evolução é uma das chaves para uma visão de longo prazo que traz prosperidade ao planeta e seus habitantes.
Daniel Feffer é presidente do Conselho Superior da ICC Brasil, a International Chamber of Commerce, e Vice-Presidente do Grupo Suzano.