São Paulo, 29 de setembro de 2021 – O Brasil tem potencial para suprir, na próxima década, de 5% a 37,5% da demanda global do mercado voluntário (negociações diretas entre empresas) de créditos de carbono, e de 2% a 22% da demanda global do mercado regulado no âmbito da ONU, gerando as receitas de até US$ 100 bilhões. A constatação é do estudo Oportunidades para o Brasil em Créditos de Carbono, encomendado pela ICC Brasil para a WayCarbon, maior consultoria estratégica com foco exclusivo em sustentabilidade e mudança do clima na América Latina. O estudo inédito foi apresentado hoje, no último dia de debates do 4º Encontro O Brasil Quer Mais – BR+, promovido pela ICC Brasil (International Chamber of Commerce), capítulo nacional da maior organização empresarial do mundo.
Como principal porta-voz do setor privado na ONU, a ICC tem trabalhado ativamente para o sucesso das negociações na COP26 e o Brasil é um ator fundamental nesse sentido. O estudo apresentado hoje, que contou com o apoio das empresas Suzano, Microsoft, Shell, Natura, Bayer e bp, traz uma visão positiva do potencial do País nesse tema, com recomendações estratégicas para a atuação brasileira em diferentes tipos de mercados. Se souber aproveitar sua potencialidade, o Brasil poderá responder por créditos de 1 gigaton (1 bilhão de toneladas de CO2 equivalentes) ao longo da próxima década para os setores de agro, floresta e energia.
Para concretizar essa potencialidade, porém, o estudo destaca que existe um caminho a ser percorrido pelo governo brasileiro e pelo setor privado juntos, traduzido em 10 recomendações essenciais ali destacadas. Delas, duas são consideradas chave: primeira, entender os mercados de carbono como oportunidades financeiras para planos de recuperação econômica e aceleração do crescimento sustentável da economia brasileira; segunda, desenvolver sistemas de monitoramento, relato, verificação e redução de emissões robustos, que abarquem todos os setores produtivos da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira. “O mercado de carbono tem de estar integrado na agenda econômica”, afirmou Laura Albuquerque, gerente de Finanças Sustentáveis da WayCarbon, na apresentação do estudo.
“O momento é agora, não podemos mais esperar”, alertou o gerente executivo de Iniciativas de Carbono da Suzano, Julio Natalense. “Já se vão 30 anos da ECO 92 e ainda estamos falando em implementação”, criticou. Por isso, o executivo considera o estudo fundamental para entender como tudo isso se relaciona com o contexto econômico mundial e, principalmente, para acelerar a redução das emissões de carbono. “O mundo todo procura soluções de captura e estocagem de CO2 e tem uma muito simples e eficiente que é a fotossíntese. Não existe mecanismo mais simples que deixar uma floresta intocável”, afirmou. “Queremos ver o código florestal cumprido, temos de acabar com desmatamento ilegal, restaurar os sistemas degradados e utilizar os sistemas plantados para desenvolver uma bioeconomia competitiva”.
O gerente sênior de Sustentabilidade e Relações Governamentais da Schneider-Electric, João Carlos Souza, destacou que é preciso deixar claro que o mercado de carbono é um mecanismo de transição para políticas estratégicas de redução efetiva das emissões. “A primeira etapa é uma ampla descarbonização e a segunda é usar os mercados de carbono para acelerar os objetivos dentro da NDC”, afirmou. Para ele, o Brasil tem todos os fundamentos para ser um líder global desse mercado. Mas para isso, tem de respeitar o timing que o mundo está vivendo. “Não existe mais espaço para procrastinar, temos de ir para a negociação na COP26 determinados a voltar com um acordo. Não temos mais tempo para ser o país do futuro”, alertou.
“Esperamos que a COP 26 traga regras claras e bem formatadas. Sabemos da urgência climática que estamos vivendo, mas temos boas notícias, ao menos do lado da iniciativa privada, cada vez mais comprometida nessa jornada”, acrescentou Monique Gonçalves, gerente sênior de Advocacy e Políticas Públicas da Shell. Segundo a executiva, não é possível ignorar o Brasil quando se fala em liderança climática. “Temos uma carteira mundial de 120 milhões de toneladas de sequestro de CO2 e o Brasil deve responder por aproximadamente 30% dela. Isso mostra que os critérios de seleção de projetos têm de ser muito altos em termos de exigência, porque têm de ser créditos da mais pura qualidade e integridade, não queremos questionamentos sobre isso”, alertou Gonçalves. Esse é justamente um dos principais motivos da alta expectativa a respeito da participação do Brasil na COP26, daqui há poucos dias”, completou.
Para aliar as questões climáticas à ampliação do engajamento do Brasil no cenário internacional, é vital construir a marca Brasil com uma comunicação eficiente, alertou a Chief Brand, Innovation, International and Sustainability Officer da Natura, Andrea Alvares. “Mas comunicação é muito mais do que fala, é aquilo que a gente faz. Então precisamos ter uma estratégia que construa a imagem do Brasil como capitalizador de ativos da biodiversidade”, ponderou a executiva. “Responsabilidade social e corporativa é um foco velho. Temos de pensar em como realmente colaboramos para as metas sustentáveis que queremos atingir. As melhores práticas mundiais estão disponíveis, não precisamos esperar uma legislação”, garantiu.
“Se não temos uma identidade de marca forte, fica cada vez mais difícil exportar produtos e serviços e atrair investimentos”, alertou Fábio Coelho, CEO do Google Brasil. Segundo ele, além de mostrar o potencial verde do País, “temos de mostrar que cuidamos bem desse potencial e que o empresariado brasileiro tem uma alta capacidade de resiliência e inovação”. E pensar em como levar essa mensagem para o exterior. “Precisamos saber o que os outros países pensam sobre o Brasil e colocar naqueles contextos as mensagens mais importantes para formar a marca que queremos, sempre fundamentados em verdades.Ou seja, tratar as percepções que podem ser incorretas ou derivadas de mal entendimento sobre o Brasil”, argumentou. E acrescentou um alerta: “fazer a marca Brasil é principalmente uma questão de política de Estado, temos de ter clareza disso”.
Neste link está a gravação completa desse último dia do evento.
O estudo completo está disponível em aqui
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